Apesar de ainda estar na fase dos 20 e poucos anos, há quem diga que minha personalidade é antiga. E isso não se limita apenas ao gosto musical ou aos DVDs de filmes em preto e branco que tenho aos montes em casa. Sou uma pessoa chegada ao drama, fechada e difícil de agradar. Por essas e outras, faz um tempo que comédias não me chama atenção. Acho stand-up a maior bobeira do mundo – definitivamente não consigo achar graça em um humor que precisa ofender o outro para arrancar gargalhadas da plateia. Eu sei, sou chata. Mas é uma questão de gosto, não é?
E é por essas e outras, que em meados de 2013 quando meu antigo affair me convidou para assistir Meu Passado Me Condena, torci o nariz. O argumento “poxa, amor, eu já vi vários dos ‘filmes cults’, agora é a minha vez!”, no final das contas me convenceu. Mas o fato de ter o Fábio Porchat como um dos protagonistas garantiu o pé atrás. Fim das contas: vi, ri muito, adorei, até me identifiquei e sai da sala de cinema mais leve.
A verdade é que a história é boa e a química entre o comediante e a Miá Mello é indiscutível. Na mesma semana, descobri que o filme veio de uma série de TV que leva o mesmo nome. Pesquisei na internet, vi tudo e fiquei abismada como o material era bom. Ou seja, tudo o que me impediu de vê-lo antes foi um grande de um preconceito de gênero (pra ter uma ideia, o último filme de comédia que tinha me agradado foi As Branquelas de 2004!).
Quando soube que o casal havia levado os “pecados” do passado para o palco do Teatro Frei Caneca, parei o TCC e me dei uma sexta-feira de folga para conferir se ao vivo os pombinhos eram tudo aquilo mesmo. Pois é, eles são! A peça teve início às 21h e assim que todas as pessoas se acomodaram nas cadeiras do espaçoso estabelecimento, Fábio e Miá desceram os corredores que ficam nas laterais dos assentos. Cumprimentaram o público, tiraram fotos e agradeceram a todos por estarem presentes em seu casamento.
Sim, o roteiro conta a primeira noite de um casal após trocarem alianças na frente de um padre. Até então, tudo bem. A diferença é que os dois se conhecem há apenas um mês e movidos por uma paixão avassaladora, tomam a grande decisão do matrimônio. Sem pensar muito, é claro. O problema é que nesse curto espaço de tempo dificilmente você conhece o outro. Ás vezes, depois de passar uma vida inteira com o parceiro ainda é possível se surpreender muito.
Para o bem ou para o mal. E é aí que os questionamentos têm início. Afinal, será que esse sentimento arrebatador é à prova de manias, ex-namorados intelectuais, família e até conviver com a ideia de que a sua mulher já transou com mais pessoas que você? Miá e Fábio nos mostram em meio a noite de núpcias que nem tudo são flores. Eles brigam, se desentendem, gritam e trocam beijos apaixonados em um cenário composto apenas com caixas de papelão – que nos dá a sensação que eles acabaram de mudar para o apartamento.
A ansiedade de Miá refletida ao repetir inúmeras vezes “Mas nós vamos ser muito felizes, não vamos?” vai de frente com a infantilidade de Fábio que ainda é muito apegado a mãe e insiste em trazê-la para a relação. Então eles se perguntam: será que subiram ao altar por desespero? Medo de ficar sozinhos? Amor? Impulso? Todas essas incertezas são escancaradas e divididas com a plateia ao longo de toda peça.
Mas no fim das contas, será que o tempo é mesmo responsável por toda essa hesitação? Creio que não. Ninguém tem poder sobre a própria vida, que dirá do outro. Sendo assim, se decepcionar ou mesmo ter medo de perder a quem se ama é algo presente na vida da humanidade. E é por isso, que se você tem ou já teve um relacionamento irá se identificar com a noite mais louca que esses dois já viveram.
Passei 1h40m rindo sem parar de atores que sabem levar uma conversa bem humorada sem apelar, sem extrapolar e acima de tudo, sem ofender a ninguém da plateia. Acrescento ainda que, o teatro é uma das artes mais sensíveis entre todas as existentes. Porque tudo acontece ali, na sua frente. É cru, não tem o “corta” do diretor e nem o “tomada 2”, que esconde erros ou crises de riso dos artistas. No teatro o making off é ali, na cara do público. E isso é uma delícia.
A peça tem curta temporada e vale a pena levar a família toda para fazer a melhor atividade que existe na vida: dar risada.
Vai lá!
O que? Peça teatral Meu Passado Me Condena.
Quando? Sextas e sábados às 21h e domingos às 19h.
Onde? Teatro Shopping Frei Caneca – Rua Frei Caneca, 569, 7o andar.
Quanto? R$ 100 (inteira), R$ 50 (meia).
Foto: Reprodução | Agradecimentos: Be Style, Teatro Shopping Frei Caneca e Máxima Assessoria de Imprensa